terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Quando tudo começou...

Esta foto ( caberia resgatar o nome do fotógrafo e a data) tem um significado muito grande para as Bicicletadas. Acho que em algum momento intitulei-a, Projetando a Bicicletada e reúne, creio que numa sala do curso de inglês You and Me, o grupo fundador do Movimento de Usuários de Bicicletas de Pelotas. Da direita Giancarlo Bachieri, P.R.Baptista, Guto King e Horacio Severi. Muitas idéias, muitos projetos, muitas reuniões, muitas Bicicletadas.

Ciclistas fazem homenagem a amigo morto no trânsito de Porto Alegre

foto Adriana Franciosi/ RBS

Cauã Coutinho, 23 anos, morreu no dia 12 ao ter sua bicicleta atingida na Avenida Cristóvão Colombo
Uma bicicleta branca depositada perto do número 2.927 da Avenida Cristóvão Colombo, em Porto Alegre, serve desde a noite desta sexta-feira como testemunho da comoção provocada pela morte do estudante de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Cauã Vasquez Coutinho.
Com formatura marcada para este semestre, o jovem de 23 anos tombou ao ter sua bicicleta atingida por um carro na madrugada do dia 12. Morreu dois dias depois.
Ativista do Massa Crítica, movimento que difunde o uso da bicicleta, Cauã foi o homenageado no tradicional passeio promovido pelo grupo na última sexta-feira de cada mês. Emocionados, os amigos acorrentaram uma ghost bike (bicicleta fantasma) no local onde o rapaz foi atropelado. Depois, cobriram-na de flores.
A morte de Cauã abalou uma larga comunidade de amigos. A própria família surpreendeu-se com a dor manifestada por gente que o jovem havia cativado ao longo da curta vida.
— Eu conhecia um filho e tinha orgulho dele. No dia do enterro, conheci outro Cauã, por meio do carinho que as pessoas tinham por ele, e fiquei ainda mais impressionado. Foi um cara bem maior do que a vida que teve — conta o pai, o dentista Paulo Coutinho, 48 anos.
Ex-aluno dos colégios Bom Conselho e Rosário, Cauã ingressou na UFRGS em 2008. O primo e ex-colega de faculdade Augusto Bacelo Bidinotto, 22 anos, conta que ele sempre ia pedalando para as aulas e defendia entre os colegas a adoção de um meio de transporte sustentável.
— Era uma figura bem diferente. Todo mundo vinha de carro, mas ele chegava de bicicleta, todo de branco. Era um cara sempre pilhado, o campeão da indiada. Nunca recusava um convite. Estava sempre disposto — conta.
O amigo de infância Tiago Braatz, 23 anos, acredita que a popularidade de Cauã se explicava pelo caráter agregador, pelo entusiasmo com que defendia ideias, pelo engajamento.
— Ele era peculiar, diferente, de personalidade forte. Havia sempre muita gente ao redor — revela.
Cauã também dava mostras de que seria um profissional diferenciado. Recentemente, durante um curso em que atendia uma idosa, disse a ela que teriam de comemorar depois de terminado o tratamento. Na última consulta, a mulher apareceu arrumada e convidou-o a sair. Cauã cancelou o compromisso com a namorada para levar a paciente ao Chalé da Praça XV. Voltou para casa faceiro:
— Conheci uma amiga do Erico Verissimo! — contou.
Erico foi uma paixão da infância. Aos nove anos, Cauã pediu O Tempo e o Vento aos pais, devorou o livro e transformou o Capitão Rodrogo em seu herói. Em 2001, aos 12 anos, depois de ganhar um prêmio literário, serviu de guia para uma reportagem de ZH na feira do Livro.
Seguindo a vontade dele, a família doou todos seus órgãos. Apenas um rim não pôde ser aproveitado. Quando Cauã morreu, o pai estava em Macau, na China, onde moram sua mulher e a filha. A viagem de 30 horas incluiu trechos em barco, helicóptero e avião. Ao chegar no imóvel que dividia com o filho, Paulo Coutinho encontrou a luz acesa e a TV ligada. Concluiu que Cauã havia saído com o intuito de voltar logo, no dia do acidente.
— O importante é alertar para o uso do capacete. O corpo do meu filho estava inteiro, mas ele teve morte cerebral. Com o capacete, talvez estivesse vivo — diz o pai, participante do Massa Crítica por influência de Cauã.
( texto Itamar Melo- Zero Hora )