quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Faltam Pintores

Está circulando na mídia e no meio ciclístico um pequeno artigo intitulado Pedalando contra o vento assinado por Carmen Guerreiro, da Revista Sustenta. Destaco alguns trechos:

O trânsito é um monstro que se alimenta de ruas. Quanto mais rua damos, mais ele cresce. São Paulo vai parar. Não é questão visionária, é matemática" (Leandro Valverdes)

"Márcia Regina Prado, 40 anos, ciclista experiente, pedalava na faixa da direita quando se desequilibrou pela aproximação de um ônibus e caiu, sendo atropelada pelo coletivo e falecendo no local (...)
Márcia entrará para as estatísticas da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) de 2009: no ano passado, 1.463 pessoas morreram na capital paulista em acidentes de trânsito, 45,8% pedestres, totalizando 670 pessoas, e 69 ciclistas."

"Não tem cabimento correr risco de morrer porque escolhemos a bicicleta como meio de transporte", indigna-se Valverdes, que conhecia Márcia da Bicicletada, pedalada coletiva mensal na Avenida Paulista".

"Implantar infraestrutura demora, o fundamental é ter respeito pelos ciclistas mesmo que não haja ciclovia ou ciclofaixa, para ele não correr riscos. Infraestrutura para bicicleta se faz com uma lata de tinta. Os motoristas têm que aprender a compartilhar a rua" (Valverdes).

Explica o engenheiro Eric Ferreira, doutor em mobilidade e professor universitário. "Temos um recurso escasso e valioso que é o espaço público, e a política hoje é priorizar o transporte privado. Para melhorar a viagem de quem vai a pé prejudica-se quem usa o carro, por isso 90% dos semáforos não têm tempo para pedestres. Melhorar a circulação de pedestres e ciclistas afetaria o fluxo de veículos".

"... se não houver um espaço designado para o ciclista na rua, ele poderá circular na borda direita ou esquerda da via com preferência sobre os carros. Além disso, o motorista deve guardar uma distância de 1,5 metro da lateral do ciclista. Para quem desrespeitar, a infração é média e sujeita a multa....".

"Batemos sempre na tecla de que, se os motoristas e os ciclistas respeitassem o que está no Código de Trânsito, não teríamos problema algum. Mas temos cidades que induzem as pessoas a cometerem infrações porque a lógica ainda é de privilegiar o deslocamento mais rápido e as pessoas esquecem do componente humano, que é fundamental" (Lacerda, da ONG Transporte Ativo)

Como se pode ver a discussão vai longe e ressalta o papel que tem as administrações municipais ( e das demais esferas) o qual não querem assumir. Dos comentários que selecionei, um deles em particular :"Infraestrutura para bicicleta se faz com uma lata de tinta ", resume muito do que penso, tomando-se o cuidado, é claro, de não o interpretar de forma literal. O sentido é entender que esperar por investimentos caríssimos, ainda que eles possam estar sendo feitos para beneficiar o automóvel, é uma forma de empurrar para adiante algumas soluções que poderiam ser imediatas. Além disto, nos centros das cidades, impõe-se buscar alternativas que não são criação de ciclovias ou mesmo de ciclofaixas mas restringir, isto sim, o trânsito e a velocidade dos automóveis. Mas se tinta até se consegue , investimentos modestos por mais eficazes que sejam não são atraentes para os políticos. Ou seja, parece que faltam pintores....

(P.R.Baptista)